Apesar de ser ainda uma doença sem cura, é possível conviver com a esclerose múltipla (EM). No dia Mundial da Esclerose Múltipla queremos informar que com hábitos saudáveis somados aos avanços da medicina é possível ter uma vida melhor, permitindo estudar, trabalhar, praticar esportes e namorar. Sabemos que o diagnóstico de EM costuma ser assustador para muitas pessoas. Afinal, trata-se de uma doença autoimune e degenerativa que afeta o sistema nervoso e pode comprometer muitas das habilidades motoras e cognitivas. Além disso, o diagnóstico costuma aparecer numa idade produtiva profissionalmente, entre 20 e 40 anos. Mas com o diagnóstico e tratamento adequado é possível viver com qualidade.
O biomédico e mestre em Psiquiatria e Ciências do Comportamento pela UFRGS, Victor Hugo Fros Boni esclarece que a (EM) é uma doença neurológica crônica autoimune, em que ocorrem processos inflamatórios e degenerativos, os quais afetam as substâncias que revestem os neurônios (bainha de mielina), atingindo o cérebro, os nervos ópticos e a medula espinhal – um processo chamado de desmielinização. Boni destaca que no Brasil a prevalência é considerada elevada, acometendo uma média de 15 casos a cada 100 mil habitantes.
A doença se manifesta a partir de surtos sintomáticos que variam de pessoa para pessoa e que podem durar semanas. Na forma mais comum da doença os surtos podem acontecer uma vez ao ano. Mas é logo aí que, feito o diagnóstico, se deve iniciar o tratamento.
Os sintomas da doença são:
- Fadiga;
- Dificuldade em andar;
- Dificuldade de equilíbrio e de coordenação motora;
- Visão dupla, visão borrada e embaçamento;
- Incontinência ou retenção urinária;
- Dormência ou formigamento em diferentes partes do corpo;
- Rigidez muscular e espasmos;
- Problemas de memória, atenção e dificuldade em assimilar informações.
Quanto às origens, o biomédico esclarece que fatores genéticos podem estar envolvidos, assim como, fatores ambientais: infecções virais (vírus Epstein-Barr), exposição ao sol e consequente níveis baixos de vitamina D, exposição ao tabagismo, obesidade e exposição a solventes orgânicos. “Os fatores ambientais são considerados na fase da adolescência, um período de maior vulnerabilidade”, destaca o biomédico.
Para identificar a doença é realizado o diagnóstico clínico, complementado por exames de imagem e exames laboratoriais (análise de líquido cefalorraquidiano).
- Avaliação clínica: são avaliados sinais e sintomas. O médico avalia os estímulos do sistema nervoso por meio de um teste físico, podendo avaliar características de caminhada, reflexos do corpo e estrutura dos olhos como a retina e disco óptico.
- Ressonância magnética: o exame de imagem mostra zonas de desmielinização no cérebro e na medula espinhal, provocado pela ação do sistema imunológico.
Pesquisas realizadas na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) desenvolvem um método capaz de diagnosticar a esclerose múltipla em estágio inicial, auxiliando em uma maior taxa de assertividade no diagnóstico. Esse método utiliza um nanoimunossensor, para analisar a interação entre os anticorpos presentes em amostras de sangue. Por meio de um microscópio, é possível verificar anticorpos característicos da esclerose múltipla, mesmo em pequenas quantidades, como ocorre no estágio inicial da doença.
A boa notícia é que, ao contrário de 30 anos atrás, após feito o diagnóstico, hoje são muitas as opções de tratamento. Existem medicamentos que atuam diretamente para amenizar os sintomas dos surtos e também os chamados “Tratamentos modificadores da doença” (TMD). Estes últimos são de uso contínuo para controlar e reduzir a frequência dos surtos e podem ser de uso diário, ou mesmo de aplicação mensal ou semestral em centros especializados. A especialidade indicada para os casos de esclerose múltipla é a neurologia. O tipo de tratamento depende das condições de cada paciente – por isso é essencial o acompanhamento médico.
Fontes: Multiple Sclerosis. N Engl J Med 378;2 nejm.org January 11, 2018; Multiple sclerosis. Nat Rev Dis Primers 4, 43 2018.